Descrição
Concha s.f. casa à deriva é o novo livro da escritora e bióloga Sara de Melo. Composto por um conjunto de poemas que explora as possibilidades de tradução e reinvenção da linguagem em seu contato com o orgânico, com a matéria do sonho e com a tensão entre ciência e subjetividade.
Investiga-se, pela linguagem verbal, um idioma poético carregado de observação, de interesse científico, mas também de intuição, uma linguagem capaz de traduzir a língua dos ventos, do sonho das árvores, do sono dos peixes, dos rios voadores, das chuvas, das ondas em arrebentação.
Há uma busca por imagens de elementos concretos, de materiais vivos e naturais que se revelam mais significativos que sua mera constituição biológica. Os compostos orgânicos e minerais carregam para dentro dos conceitos, pensamentos e sonhos, a sua efemeridade em imagens como a das derivas das nuvens, a fragmentação das conchas, o pouso dos pássaros na abóboda do céu.
As tensões entre precisão científica e sensorialidade aparecem na própria constituição de alguns dos poemas, que aderem à linguagem dos verbetes de dicionário, e muitas vezes derivam para a prosa, indicando como há fluidez e ambivalência na maneira como se olha e se traduz o mundo. É assim que as casas, como conchas, casulos, nuvens, se mostram móveis e acompanham os seus próprios corpos, confundindo-se com o mundo. As palavras se mostram capazes de viajar para além dos livros, com o vento, no mapa das nuvens, no sono dos peixes e podem refugiar-se no sonho das árvores.
O formato especial, de cantos arredondados, a capa e o projeto gráfico de Sílvia Nastari exploram um paralelo com os cadernos científicos, com imagens originalmente feitas pelo naturalista italiano Giuseppe Saverio Poli. Na capa, o desenho de um argonauta (um molusco marinho) traduz uma das imagens centrais para a poética da autora: o corpo como casa.
O livro recebeu apoio do FAC-DF-2021 (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal).
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