A LOBA da loba não se tem notícias por que teria se aproximado do Tibre, para matar a sede? ninguém levou água à loba e assim sobreviveram os fundadores de Roma. Cansada de amamentar seus lobinhos saiu do santuário e desceu às margens do rio de Rômulo e Remo conhecemos a linhagem mas a história da origem é nebulosa como toda origem é nebulosa a mãe, Rea Silvia, fora estuprada por homem terreno, diz Tito Lívio, não seduzida pelo deus da guerra, talvez pelo próprio tio. Após dar à luz os gêmeos foi morta ou encarcerada há controvérsias, talvez enterrada viva por descumprir o voto de castidade nunca se sabe ao certo como morre uma mulher nem na fundação de Roma, nem agora. A loba, anônima, vive imortalizada no bronze em latim as palavras lupæ meretrices ambulatrices fornicatrices indicavam o mesmo ofício mas também noctilucæ luz noturna vaga-lume *
PRECE A AUÐUMBLA1 Auðumbla das divinas tetas deusa primeva dessa latitude que seus quatro rios de leite abençoem os meus córregos que nunca me falte a fonte na curva noturna entre os meus bicos e os lábios dele.
1.Na mitologia nórdica, Auðhumbla era a vaca alimentadora, a Mãe Terra. Amamentou o deus Ímer e lambendo o sal do gelo desenterrou e deu vida a Búri. *
METAMORFOSE De noite lavo a pele de foca a máquina a trinta graus e mil e duzentas rotações o segredo é colocar óleo de fígado de bacalhau] no compartimento do amaciante então ela brilha que é uma beleza sob as lâmpadas halógenas do banheiro enquanto isso sento-me nua num banquinho frouxo e fico de olho nunca sinto-me tão viva como assim (traduzido do islandês por Francesca Cricelli)
[HAMBRIGÐI] Á nóttunni þvæ ég selshaminn í vélinni á þrjátíu gráðum og tólfhundruð snúningum galdurinn er að setja lýsistöflu í hólfið fyrir mýkingarefnið þá glansar hann svo fallega undir halogenljósunum á baðinu á meðan sit ég nakin á völtum kolli og fylgist með mér finnst ég aldrei jafn lifandi (Sunna Dís Másdóttir)
Sunna Dís Másdóttir é uma escritora, editora e tradutora, participa do grupo de poetas e escritoras que publica coletivamente sob o nome Svikaskáld.
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Créditos:
Imagem de abertura: Jader Gadotti